quarta-feira, 4 de novembro de 2009

ENTRE UMA AULA E OUTRA, A FESTA!

Por Lúcia Leiro
Para Neguinnho do Samba, in memoriam
O calendário acadêmico, quando chega no final do ano, sempre é intercalado pelas festas populares que começam com o início do verão ou até mesmo antes. Salvador e toda a região metropolitana passam a conviver com um céu e mar azuis, roupas mais leves e claras e a expectativa de um final de semana com sol e praia. Tudo isso regado a um volume estrondoso de festas que explodem pelos quatro cantos das cidades.

Nesse meio tempo, professores e alunos tentam garantir a concentração, o cumprimento do conteúdo e a aprendizagem, pois, como sabemos, o último semestre do ano letivo é entremeado pelas festas de final de ano. Inicia com o recesso de dezembro (Conceição da Praia, Natal e Ano Novo) e culmina com as férias docentes que inclui a Ressaca do Ano Novo, a Festa do Senhor do Bonfim e as incontáveis lavagens e ensaios. No dia 02 de fevereiro, segundo o calendário acadêmico, retornamos (?), mas é Festa de Iemanjá. Salvamos em uma pasta o nosso "esforço" em reiniciar o semestre e partimos para o Rio Vermelho para a nossa aula inaugural de retorno que poderia ser ministrada por docente de qualquer área do conhecimento. Letras? Contabilidade? Administração? Economia? Direito? Pedagogia? Psicologia? Matemática? Antropologia? Sociologia? Nas festas populares, encontramos corpus e corpos para todos os estudos.
Na semana seguinte, paramos para o Carnaval, lembrando-nos de que muito antes todos já desaceleraram das aulas, pois toda a energia e concentração volta-se para o recesso carnavalesco, seja na correria pelo abadá ou pelas viagens para o interior. Chega o Carnaval e, como sabemos, depois de hospedar por uma semana Baco, (Evoé!) precisamos de pelo menos um mês para sairmos de um estado de euforia quase letárgica (só na Bahia mesmo para as antíteses conviverem quase sem conflito) para entramos em aula, em uma letargia quase eufórica.

Nesse vai-e-vem, na gingada do calendário acadêmico, aprendamos alguma coisa com a nossa cultura, pluriritmíca, multireferencial, antitética ou, como querem alguns, barroca! Não somos cátedras nascidos e nascidas entre os bosques verdejantes e as savanas desérticas. Não nascemos para ver o outro, o exótico, e analisar, pois para nós o outro é nós mesmos. Somos sujeito e objeto do nosso próprio refletir.

Para nós, filhos e filhas dos trópicos, resta-nos, entre uma aula e uma festa, tentar ajustar o nosso passo ao ritmo da dança, recuperar o ritmo no embalo das teorias, nas danças das críticas e ao som das correntes filosóficas.

Somos o signo do ritmo, a personificação da transcendência em movimento, prontos e prontas para acompanhar as batidas e construir uma nova coreografia, espontaneamente, como os meninos e meninas nas ruas, para, enfim, convertê-la em prazer estético, em espetáculo ou, apenas, em satisfação pessoal ou, quem sabe ainda, nas três coisas juntas.

Podemos aproveitar os signos do nosso verão e, quem sabe, usarmos uma metodologia mais leve, recursos mais coloridos, textos mais melodiosos e estratégias mais suingadas. Não há como resistir: melhor aproveitar o clima e transformar a aula em um espetáculo carnavalesco onde as teorias e as práticas possam, enfim, se encontrar e, divertidamente, saltitarem ao som do axé ou da cadência da levada, certos e certas de pertencermos a uma cultura em que a festa é mais que diversão, é um estado de espírito, é a afirmação de uma cultura e é, ainda, como diz Caetano, "um jeito de corpo".

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